terça-feira, novembro 21, 2006

BALADA PARA UMA VELHINHA



"Oldwoman" -foto retirada de www.trekearth.com
Num banco de jardim, uma velhinha
Está tão só com a sombrinha
Que é o seu pano de fundo
Num banco de jardim, uma velhinha
Está sozinha
Não há coisa mais triste neste mundo
E apenas faz ternura,
Não faz pena, não faz dó
Pois tem no rosto um resto de frescura
Já coseu alpergatas e bandeiras,
Verdadeiras
Amargou a pobreza até ao fundo
Dos ossos fez as mesas e as cadeiras,
As maneiras
Que a fazem estar sentada sobre o mundo
Neste jardim é ela a trepadeira
Das canseiras
Das rugas, onde o tempo é mais profundo
Num banco de jardim, uma velhinha
Nunca mais estará sozinha
O futuro está com ela
E abrindo ao sol o negro da sombrinha
Poidinha
O sol vem namorá-la da janela
Se essa velhinha fosse a mãe que eu quero
A mãe que eu tinha
Não havia no mundo outra mais bela
Num banco de jardim, uma velhinha
Faz desenhos nas pedrinhas
Que, afinal, são como eu
Sabe que as dores que tem também são minhas,
São moinhas
Do filho a desbravar que Deus lhe deu
E em volta do seu banco os malmequeres,
As andorinhas
Provam que a minha mãe nunca morreu.
Uma criação de Carlos do Carmo, com letra de Ary dos Santos e música de Martinho d'Assunção.

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