sábado, agosto 11, 2012

ANTÓNIO DOS SANTOS - "Recordando"



O fado-balada "Recordando" tem letra e música de A. Veloso R. Camelo e de António dos Santos, que também o interpreta.
A propósito, há por aí quem entenda que chamar "letra" às palavras de um fado é, de algum modo, menorizar um texto que antes devia chamar-se poesia... Pois eu penso absolutamente o contrário - chamar "letra" às palavras de um fado é simplesmente marcar a diferença entre um e outro texto, cujas técnica e finalidade são, por certo, diferentes... Não é este o momento, nem o sítio para me alongar mais sobre o assunto; apenas queria dizer que, em minha opinião, há no Fado imensas letras extraordinárias, que muitos poetas gostariam mesmo de assinar por baixo, e que devem continuar a ser assim designadas, quanto mais não seja para marcar essa diferença essencial entre os textos poéticos...  Em suma, há a poesia, a prosa poética e a letra, que é aquele texto que se escreve para Fado, a isso adequado na sua forma e conteúdo, um modo de escrever e sentir tão português como o Fado, inacessível até a muitos poetas... Por isso, também gosto de dizer "letristas", que é uma forma tão maior, tão mais próxima e genuína de cantar a vida, o dia-a-dia, de celebrar com palavras simples a complexidade dos sentimentos... A letra deste fado-balada é bem o exemplo disso... tão simples, não é? Tentem escrever assim e verão... Talvez pela dificuldade, nunca houve muitos poetas a escrever para Fado; lembro, por exemplo, o David Mourão-Ferreira, além do mais um académico, apenas para vos desafiar a tentarem estabelecer duas (im)possíveis comparações- entre as suas poesias e as suas letras e entre as suas letras e as de João Linhares Barbosa; aí têm no que difere um poeta dum letrista! É que, letristas, apenas portugueses e no Fado. Por isso, deixem que se continue a chamar letra às palavras do fado e letrista a quem as escreve e tenham orgulho nisso, de sermos únicos e tão bons!
Pena é que tenhamos agora tanta falta de letristas e tantos poetas a escrever para fado umas coisas que ninguém percebe porque não dizem seja o que for; nem são letras, nem são poemas, escritos por quem nem sabe ser letrista nem poeta... umas "coisas" que ninguém mais lembra, que nem chegam a entrar no ouvido que, como órgão muito sábio que é, nem sequer as deixa entrar... Por alguma razão andam os fadistas de agora agarrados a repertórios antigos, cantados, recantados, mas sempre a agradar. Essa é que é essa!...


António dos Santos Caio Castanheira, que adoptou o nome artístico de António dos Santos, nasceu no Hospital de São José, freguesia do Socorro, a 14 de Março de 1919. ... (daqui)