sexta-feira, outubro 02, 2009

EXCELÊNCIA e FAMA




Recebi há pouco este curioso relato duma experiência comportamental, realizada pelo The Washington Post, sabe-se lá com que finalidade..., e que achei tanto mais interessante quanto o facto de, nestes últimos dias, dar comigo a congeminar, particularmente, acerca da Fama.

"Un hombre se sentó en una estación del metro en Washington y comenzó a tocar el violín, en una fría mañana de enero. Durante los siguientes 45 minutos, interpretó seis obras de Bach. Durante el mismo tiempo, se calcula que pasaron por esa estación algo más de mil personas, casi todas camino a sus trabajos. Transcurrieron tres minutos hasta que alguien se detuvo ante el músico. Un hombre de mediana edad alteró por un segundo su paso y advirtió que había una persona tocando música. Un minuto más tarde, el violinista recibió su primera donación: una mujer arrojó un dólar en la lata y continuó su marcha. Algunos minutos más tarde, alguien se apoyó contra la pared a escuchar, pero enseguida miró su reloj y retomó su camino. Quien más atención prestó fue un niño de 3 años. Su madre tiraba del brazo, apurada, pero el niño se plantó ante el músico. Cuando su madre logró arrancarlo del lugar, el niño continuó volteando su cabeza para mirar al artista. Esto se repitió con otros niños. Todos los padres, sin excepción, los forzaron a seguir la marcha. En los tres cuartos de hora que el músico tocó, sólo siete personas se detuvieron y otras veinte dieron dinero, sin interrumpir su camino. El violinista recaudó 32 dólares. Cuando terminó de tocar y se hizo silencio, nadie pareció advertirlo. No hubo aplausos, ni reconocimientos. Nadie lo sabía, pero ese violinista era Joshua Bell, uno de los mejores músicos del mundo, tocando las obras más complejas que se escribieron alguna vez, en un violín tasado en 3.5 millones de dólares. Dos días antes de su actuación en el metro, Bell colmó un teatro en Boston, con localidades que promediaban los 100 dólares.
Esta es una historia real. La actuación de Joshua Bell de incógnito en el metro fue organizada por el diario The Washington Post como parte de un experimento social sobre la percepción, el gusto y las prioridades de las personas. La consigna era: en un ambiente banal y a una hora inconveniente, ¿percibimos la belleza? ¿Nos detenemos a apreciarla? ¿Reconocemos el talento en un contexto inesperado?... ¿qué otras cosas nos estaremos perdiendo?..Estamos dejando de vivir los verdaderos momentos hermosos que la vida nos depara...?"

Interessante, esclarecedor, resultado absolutamente expectável, não?!... Mas, mesmo assim...

De facto, como tudo o resto, a Fama é relativa; relativa quanto à quantidade, isto é, por mais famoso que alguém seja, é improvável que "todo o mundo" o conheça, como parece provar-se nesta experiência; e igualmente relativa quanto à qualidade, ou seja, nem todos os que alcançam a Fama são Excelentes, tal como disse A. Oxenstiern "A fama dista muito de ser sempre a garantia segura do merecimento", bem como nem todos os Excelentes se tornam Famosos, ou, porque acabam por perfilhar a ideia de Agostinho da Silva "Se alguma vez te tornares conhecido, arrepende-te e volta à obscuridade; nela serás irmão dos melhores", ou, porque mesmo preferindo os caminhos da glória, não teve a oportunidade, já que, como diz Unamuno, "O céu da fama não é muito grande e, quantos mais nele entrarem, menos fica para cada um deles", nem lhe foi dada visibilidade e nem protagonismo, o que ocasiona, como muito bem referiu Diderot, que "Há quem morra desconhecido por não ter tido um teatro diferente"...
Em suma, ser excelente não significa ser famoso e tornar-se famoso é uma questão de oportunidade, espaço, conveniência, opção...
Tenho sempre uma enorme necessidade de fazer estas reflexões, nomeadamente quando aterro neste mundo do Fado onde o céu da Fama é por demais minúsculo, e onde, mesmo assim, nem sempre lá se encontra apenas quem merece...
É claro que os famosos não devem unicamente à excelência, quando a têm, a fama que alcançam; é claro que estas experiências, como a que aqui se ilustra, já se fazem há longo tempo e não são inocentes e nem inócuas... Como o não são todas essas outras que se levaram a cabo por outros canais de Informação, fazendo-as passar por puro espectáculo. É evidente que, mais do que os clássicos políticos, quem hoje verdadeiramente manda é quem manda na Informação; esse é o Poder; o Poder de intervir nos gostos e escolhas de quase todos nós, o que, parecendo que não, acaba por ser muito mais asfixiante, redutor, normativo e perigoso do que qualquer outra Força já existente, do que qualquer outra forma de colonização/clonagem. Esta coisa da Informação é efectivamente o doce envenenado que, com uma capa de democratização, mais não pretende do que a instituição da conveniente Ignorância com capa da bastante Sabedoria, o equilíbrio que sustenta a conformação das hordas e da turba. Provavelmente, a experiência em curso teria mais a ver com a análise da Ignorância e a procura de novos métodos que possibilitem cada vez mais e melhor o alheamento das massas, nomeadamente da Cultura, e a sua devoção pelo acessório, em desprezo do essencial, pelo Ter, em vez do Ser...
A meu ver, esta coisa da Fama é sempre de desconfiar; é que, se prestarmos atenção, mesmo os mais excelentes só ganham esse pedaço de "céu" se o Poder permitir, se O favorecerem... sim!, bem podem ser os melhores, mas se forem incómodos, são imediatamente abafados e metidos no bolso do Incógnito, como berlinde de colecção, que justifica e aumenta o poderio; quanto aos outros famosos, que são a maior parte, vivem apenas de favores e alimentam com favores o Poder que os favorece e, enquanto se mantiverem assim, a engrenagem não os rejeita... agora, se por um qualquer ataque de lucidez ou esperteza súbita O afrontam, então são absolutamente trucidados e nem o nome se lhes aproveita!...
Isto sou eu a falar, para muito poucos e, mesmo assim, improváveis leitores! Quer dizer, sou eu em monólogo, quase absoluto, aqui e ali salpicado de um diálogo empolgante com um ou outro benemérito leitor deste blogue, cujo poderio ( e esta fica aqui só entre nós) suplanta de longe o dessa gente da Informação, primeiro porque só os excelentes continuam a acompanhar este blogue e, segundo, porque a mim me basta o reconhecimento de excelente de um igual para me sentir no Passeio dos Famosos!...
E digo eu "-Que final mais imprevisto para este artigo de opinião"! Sinceramente que o não esperava dela, diacho!...
E finalmente, já sem complexos de coisa alguma, diga(m)-me lá se consegue(m) identificar todos os Excelentes acima representados... Eu, sem cábula, por certo não o conseguiria...
Como dizia o outro, não sem uma certa razão, "A vida, Costa!..."
Ah, pois, as autár..., mas isso não vem ao caso. Desculpem, sim?!

quinta-feira, outubro 01, 2009

JORGE FERNANDO - "Reencontro"

Vem este

VÍDEO DE HOMENAGEM

a propósito do novo album -"VIDA"-, editado recentemente por Jorge Fernando, um notável compositor e letrista e também intérprete, cuja notícia melhor pode ler aqui http://www.portaldofado.net/content/view/1529/67/ ; na Wikipédia pode informar-se acerca da biografia, discografia e de algumas curiosidades acerca deste conceituado artista que, apenas com 16 anos, compôs o belíssimo fado "Boa noite Solidão" http://pt.wikipedia.org/wiki/Jorge_Fernando_(fadista).

O fado que interpreta, neste vídeo, intitula-se "Reencontro" e é de sua autoria e de Armando Machado.

quarta-feira, setembro 30, 2009

ARTUR RIBEIRO - "Fiz leilão de mim"

VÍDEO DE HOMENAGEM
Talvez de razão perdida / Quis fazer leilão da vida / Disse ao leiloeiro / Venda ao desbarato / Venda o lote inteiro / Que ando de mim farto / Meus versos que não são versos / Atirei ao chão dispersos / A ver se algum dia / O mundo pateta / Por analogia / Diz que sou poeta
Fiz leilão de mim / E fui por fim apregoado / Mas de mau que sou / Ninguém gritou arrematado / Fiz leilão de mim / Tinhas razão minha almofada / Com lances a esmo / Provei a mim mesmo / Que não valho mais que nada
Também quis vender meu fado / Meu modo de ser errado / Leiloei ternura / Chamaram-me louco / Mostrei amargura / E o mundo fez pouco / Depois leiloei carinho / E em praça fiquei sozinho / Diz-me a pouca sorte / Que para castigo / Até vir a morte / Vou ficar comigo.
"Um dos casos raros de artista que não se limitava a interpretar mas igualmente compunha - e muito! - Artur Ribeiro escreveu alguns dos maiores clássicos da música ligeira portuguesa, como A Rosinha dos Limões, Nem às Paredes Confesso ou A Fonte das Sete Bicas.Natural do Porto, onde nascera em 1924, Artur Ribeiro gostava de cantar em miúdo mas o seu temperamento tímido fazia-o cantar escondido atrás de uma cortina. Em 1940, a família muda-se para Lisboa e é aqui que o seu talento é descoberto: num baile organizado pelo Clube Radiofónico de Portugal, Artur Ribeiro começa a trautear enquanto dança com uma jovem que queria impressionar, sendo imediatamente notado pelo director de programas da estação, que o convida a actuar numa festa em honra do Cônsul do Brasil. Nessa festa, por seu lado, Ribeiro é abordado por um dos responsáveis da Rádio Peninsular para se juntar ao elenco daquela emissora como tenor lírico. Empregando-se para não sobrecarregar o orçamento familiar, Artur Ribeiro vai subindo profissionalmente, passando inclusive a produtor de emissões e começando a compor as suas primeiras canções. Em 1944, estreia-se profissionalmente num espectáculo da Esplanada da Voz do Operário, ao lado de Amália Rodrigues, e em seguida estreia-se no teatro na Revista Internacional de 1945 no Coliseu dos Recreios, partindo em seguida para o Porto para substituir Luiz Piçarra na opereta A Chave do Paraíso. Em 1946 estreia-se na Emissora Nacional e, no ano seguinte, enfrentando um mau momento profissional, aceita ser cantor da Orquestra do Casino Estoril, iniciando uma nova fase da sua carreira. Modulando a sua voz para a canção ligeira, torna-se um aplaudido vocalista da noite lisboeta, transferindo-se do Casino para o Conjunto de Mário Teixeira, pianista com quem começa a compor regularmente. Em 1948 conhece Max, para quem virá a escrever alguns dos seus maiores sucessos -como Ilha da Madeira - e, em 1949, ganha o seu primeiro prémio como compositor com Canção da Beira.A par com a sua carreira de cantor, impõe-se como compositor, com êxitos como Rosinha dos Limões (que originará em 1954, uma opereta de grande êxito), Maria da Graça, Adeus Mouraria, Pauliteiros do Douro ou A Fonte das Sete Bicas. Em 1965, contabilizava 300 canções de sua autoria exclusiva e 700 letras feitas para melodias suas e de outros. Max, António Calvário, Rui de Mascarenhas, Madalena Iglesias, Júlia Barroso, Tristão da Silva, Simone de Oliveira ou Maria José Valério gravaram canções de Artur Ribeiro. Presença regular nos programas radiofónicos da APA, grava os primeiros discos em 1953 e passa igualmente pela televisão (onde se estreia em 1957) e pelo cinema (escrevendo a música de O Miúdo da Bica, com Fernando Farinha, onde participou igualmente como actor). Participou igualmente em muitos programas de variedades em Espanha. Faleceu em 1982." ( in http://www.macua.org/biografias/arturribeiro.html)
Este tema da sua autoria, que poderemos classificar como fado musicado, tal como o "Adeus Mouraria", é uma das suas letras mais emblemáticas e, quiçá, representativa da sua personalidade, como afirmam alguns dos que o conheceram.
Para lembrar este notável autor, compositor e intérprete, cuja carreira foi interrompida por questões de saúde, o seu "Fiz leilão de mim", com música de Max, letra e interpretação do próprio Artur Ribeiro, acompanhado pela Orquestra de Rocha Oliveira .

domingo, setembro 27, 2009

LIRA gosta de CARMINHO

Chega-nos da Suécia este recorte da Lira, uma revista especializada em música
A coluna "Lira Gillar" que, como todos sabemos :), equivale a dizer "Lira likes", o que em português significa "Lira gosta de", destaca os melhores albuns e, desta feita, de entre a produção mundial, a escolhida foi Carminho e o seu CD de estreia, sendo a crítica subscrita por Ulf Bergqvist, um sueco apaixonado pelo fado e por Lisboa, autor, com Thomas Nydahl, do belíssimo livro "Lissabon - Miljöer -Människor - Musik", i.é, "Lisboa - Ambientes - Pessoas - Música".
É evidente que esta escolha me enche de orgulho, tanto mais que esta menina é uma das minhas mais preferidas fadistas da nova geração.
A fim de facilitar os que usualmente não falam sueco e que, portanto, tal como eu, têm alguma dificuldade em perceber integralmente o texto em sueco :), solicitei ao próprio autor que me enviasse uma tradução em inglês e é essa que aqui se transcreve seguidamente

"The young singer Carminho has been a respected name in fado for a long time before she now makes her debut on cd. Portugal’s best guitar players gather around this singer, and here six of them are present in various constellations, José Manuel Neto, Bernado Couto and Ricardo Rocha at front, all on guitarra portuguesa. Diogo Clemente on viola contributes throughout. This very even, well prepared production contains a finely composed selection of songs, some of them based on traditional fado. Carminho must already, 24 years young, be regarded as one of the major names of the new fado. She has a good voice, but the most remarkable thing about her music is her total presence in every syllable, her dynamically very varied, richly ornamented melodic line and the energetic, temperamental way of singing. This is fado working at depth, strongly connected to the traditional ways of expression in fado, as authentic as it can be in today´s internationalized media world. The best debut cd in fado for many years! "

Adoro este final!
Parabéns Carminho!