Venho hoje lembrar Neca Rafael, Manuel Garcia da Silva, de sua graça, um dos mais conceituados fadistas humoristas, natural do Porto, interpretando um tema da sua autoria "Onde está o rapazote" que, embora contando já alguns anos, continua a ter grande actualidade... De facto havia e há por aí vários destes rapazotes... dalguns até sabemos o paradeiro... mas, a massa, essa é que desapareceu!...
Ou terá sido apenas deslocalizada?!... Sei lá! Sei lá! Sei lá!
A lembrar e ilustrar uma prática pouco habitual (diria rara) em Fado, cantar a dois, em simultâneo e sem acompanhamento da guitarra portuguesa. Mário e Armando, Os Simultâneos, precisamente, interpretam, no Fado Carriche, "Rezas", da cantadeira e letrista, Natália dos Anjos.
Com dedicatória para os que gostam de inovações, ou melhor diria, pseudo inovações no Fado...
Ontem, finalmente, lá fui ao "A Nini", que é um restaurante muito simpático, em Lisboa, na R. D. Francisco Manuel de Melo, 36 A, onde, às 5ªs, há Fado. "Fado Vadio", como chamamos nós, para distinguir esta prática da outra, a comercial, em que os artistas são pagos para cantar e têm de assistir a jogo, peça-lhes ou não o coração; no "Fado Vadio" canta quem sabe, pode e tem vontade, como numa tertúlia de amigos ou confrades (e confreiras também, porque não?) Pois ontem, no "Nini", após um agradável jantar em óptima companhia, regado com um tinto muito aceitável, assisti a uns cantos ao fado, que é coisa que sempre me alegra a alma, mesmo quando os cantadores e cantadeiras se encontram entre os menos dotados e/ou menos conhecidos do grande público. Há sempre quem nos surpreenda com prestações maiores, mesmo que no Fado Menor... Pena tenho que aqui não possa deixar registado o nome de todos os que (en)cantaram, mas não havia por lá nenhum Filipe Pinto para os apresentar e aos fados que interpretaram e nenhum deles tão pouco se apresentou, nem declinou os nomes do fado que iria interpretar, e respectivas autorias. Sinal dos tempos! Se até na Rádio Amália a prática é a mesma!... que me dá raiva, porque, por vezes, gostei do que ouvi, mas não (re)conheço e fico completamente na mesma; se recuperassem esse bom uso, de nomearem quem canta e o quê, não só estariam a cooperar na erradicação da ignorância da res fadística, como a colaborar com quem faz, do Fado, mester, i.é, fadistas, industriais e comerciantes... Claro está que ainda há quem conserve esses bons usos de antigamente, como é o caso desta Senhora que, há dias, esteve neste mesmo Restaurante, por ocasião duma homenagem, e cuja actuação o amigo J.M. do https://www.youtube.com/user/4fadolisbon registou neste vídeo, à semelhança do que vem fazendo já há algum tempo, em diversas casas de Fado Vadio, um trabalho notável que alguns já vão procurando e que todos ficam a apreciar.
São, por certo, vídeos que vão ficar para a História do Fado, mas que, lá está, têm apenas a informação possível... é que, por vezes, nem quem canta nos sabe dizer de quem eram os versos e a música do fado que cantou!... Ainda ontem isso aconteceu e, assim, em vez de ter eu aprendido mais qualquer coisa, saí de lá com a mesma ignorância acerca de um fado de que tanto gostei. Adiante... mas não sem antes confessar ainda que fiquei também sem saber o nome dos que cantaram, à excepção do consagrado Filipe Duarte, que por lá pára e nos brindou com a sua presença bem fadista.
Enfim, o resultado, ao contrário do que acontece com as contas do país, é positivo e breve tenciono lá voltar para mais uma noite de surpreendente fado ao vivo.
Vá lá também! Olhe que eu não ganho nada com isso, mas você fica a ganhar ou, pelo menos, não perde nada, o que, nos tempos que correm, é mesmo baril :)
Acompanhado pelo Conjunto de Guitarras de Raúl Nery ( guitarras: Raúl Nery e Pedro Caldeira Cabral; viola: Mário Pacheco; viola-baixo: Edmundo Silva), Armando Morais interpreta, no Pedro Rodrigues, "Ter saudade", de Jorge Rosa
Uma letra de cariz muito popular, interpretada por essa grande cantadeira do Porto, Adelina Silva, que aqui podemos ouvir também em dois temas clássicos, gravados mais recentemente.
Quanto aos "passarões", um clássico igualmente, dentro do seu género, a primeira quadrinha reza assim:
"Minha mãe entre carinhos / me dava destas lições / Que os homens são passarinhos / mas também são passarões" :)
A propósito desta notícia, vamos hoje recordar um cantador de Setúbal, António Severino, interpretando um fado com letra de Marques Vidal, no Fado Dois Tons, acompanhado pelo Conjunto de Guitarras de Jorge Fontes.
Mercedes Blasco, actriz, a quem já me referi aqui e aqui, "uma figura do Chiado", "uma mulher muito avançada para o seu tempo", uma estrela desconhecida, por uns, esquecida, por outros, que levou o fado a todos os cantos da Europa...
Para quem ainda não tiver dado por isso, já se encontra à venda, desde Novembro p.p., uma edição em fac-símile do indispensável "Ídolos do Fado", de A. Victor Machado, com uma introdução do especialista Rui V. Nery.
Para iniciar bem o Ano, lembro hoje, com chancela Zip-Zip, este fadinho bem disposto - o "Fado Calcinhas", com letra de Luís Miguel de Oliveira -, interpretado pelo inesquecível Solnado, acompanhado por António Chaínho, à guitarra, e José Maria Nóbrega, à viola.
Bom Ano e não esqueçam "Vale mais um mais ou menos do que mais que menos não pode ser"
"Como a vida passa"!... É verdade! Ainda há pouco entrámos 2012, já estamos a começar 2013...
"A vida passa tão breve
Tão vertiginosa e leve
Deixando apenas saudade
Eu sinto um grande desgosto
De já ter rugas no rosto
Da perdida mocidade
Os anos correm a esmo
Sinto que não sou o mesmo
Neste mundo de ilusão
Quando o espelho consultei
Tremi e depois chorei
Magoei meu coração
Quem me dera não amar
Não ter alma, não sentir
Os proventos do amor
P'ra não carpir, não chorar
P'ra não saber definir
As amarguras, a dor
Eu sinto um grande desgosto
De já ter rugas no rosto
Da perdida mocidade
A vida passa tão breve
Tão vertiginosa e leve
Deixando apenas saudade"
E é com este fado, da autoria de Germano Silva e de Júlio Proença, do repertório de Júlio Peres, que o interpreta, que me despeço de todos quantos frequentam este sítio de Fado, desejando um
Com este belíssimo fado, da autoria de Fernando Teles e de Filipe Pinto, interpretado por Argentina Santos, a todos aqui deixo os meus votos de Santo Natal e de um Feliz Ano Novo!
Raul Pereira (que já lembrei aqui, aqui , aqui e aqui) intérprete favorito de Carlos Conde e um dos que não dispenso, interpreta o fado "Zé Grande" da autoria de ambos.
Ainda acerca da matéria versada no verbete anterior, lembrei-me eu, por curiosidade, de ir procurar alguma informação sobre a candidatura do Fado a Intangible Cultural Heritage of Humanity, candidatura que, tenho ouvido dizer, foi considerada como uma das mais bem apresentadas. Confesso que, até hoje, ainda não tinha tido, nem a curiosidade necessária, nem o tempo disponível para me dedicar ao assunto, mas hoje, com uma pedrinha no sapato e algum tempo livre, aí fui eu vasculhar a rede e encontrei matéria interessante que me deixa, porém, algumas questões sem resposta... Creio que a comunidade fadista que, como eu, tem divulgado e continua a divulgar, na rede, o Fado, de uma forma maior, que mais não seja porque a título gracioso, terá todo o interesse em consultar, na íntegra, os documentos de que aqui deixo apenas alguns como exemplo, para o que basta clicar aqui e baixar os que são disponibilizados em Inglês-Francês e Português
Neste primeiro documento, estranhei não encontrar os nomes de fadistas consagradas como os de Beatriz da Conceição, Celeste Rodrigues, Deolinda Rodrigues, Mariana Silva, para nomear apenas algumas, mas encontrar nomes de pessoas cuja relevância no Fado, eu gostaria que alguém me explicasse...
Relativamente ao documento abaixo, o que me chamou mais a atenção, foi mesmo a questão dos Amount. Do alto da minha ignorância e do meu blogue de Fado Menor, pergunto eu, a quem souber responder-me, o que significa estas verbas, cujo total perfaz a bonita soma de euros 1.215,000... o que significa, quero eu dizer, quem paga estes valores... ou seja, este dinheiro vai ser ou foi disponibilizado por quem e a quem, para o cumprimento das Safeguarding measures proposed ? Isto, se perguntar não ofende...
Afinal, esta coisa de lhe chamarem Património Imaterial tem que se lhe diga... Parece-me muito material, até!... Ao menos, já fiquei entendendo melhor o vespeiro que se formou à volta da colmeia...
A assinalar o 1º aniversário do reconhecimento do FADO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, a C.M.Lisboa vai distinguir várias personalidades que, de algum modo, tiveram um papel preponderante na promoção e divulgação deste género único e português, cada vez mais apreciado nacional e internacionalmente.
Com o fado "LISBOA DO FADO", de Guilherme Pereira da Rosa e de J. Fontes Rocha, numa magistral interpretação de Fernando Maurício, acompanhado pelas guitarras de Manuel Mendes e de Armandino Maia, a viola de José Maria de Carvalho e a viola-baixo de José Vilela, associo-me a esta comemoração e homenagem, que muito nos orgulha.
Encontrei esta Desgarrada, ao vivo e à séria, que não posso deixar de partilhar convosco, não vá dar-se o caso de não toparem com ela no sacrossanto Youtube...
Prestem bem atenção à graça das quadrinhas - algumas very hot :-) - e aos fadistas de raça...
Isto é do genuíno!
A solicitação do Amigo Jaume, aqui se reproduz as quadrinhas
Vou abrir a desgarrada
desgarrada singular
com a garganta afinada
Alexandre podes cantar
Ó sua descaradona
tire a roupa da janela
que essa camisa sem dona
lembra-me a dona sem ela
Ó Senhor dos Aflitos
por mim não tens compaixão
deste-me 3 pernas lindas
mas uma não chega ao chão
A Maria mamalhuda
mandou fazer 2 camas
uma p'ra se deitar ela
outra p'ra deitar as mamas
Fiz amor c'uma galinha
com grande satisfação
p'ra ver o gozo que tinha
fazer dum galo um cabrão
Meninas amai um coxo
Que um coxo também se ama
só a graça qu'ele tem
d'ir aos saltinhos p'rá cama
Homem velho, mulher nova
dá-me sempre a impressão
do inverno entrar na cova
com a primavera pela mão
Minha irmã foi ao dentista
porque lhe doía um dente
o dentista enganou-se
e tirou-lhe os 3 da frente
Torradinhas, torradinhas
torradinhas comeste tu
a Miraldina é como a cabra
não tem p... no c... / não tem cabelo nas costas
Atirei c'uma pedrinha
à janela do meu bem
p'ra fazer sinal ao filho
parti os c... à mãe / parti a cabeça à mãe
Sino, coração da aldeia
Coração, sino da gente
Um, a sentir quando bate
Outro, a bater quando sente
Nem por isso gosto menos
duma mulher que se pinta
As mulheres são como os chocos
E eu, como-os sempre com tinta
Cabelo branco é saudade
da mocidade perdida
às vezes não é da idade
são os desgostos da vida
Os p... saem do c...
como os pombos dos pombais
Os pombos ainda voltam
os p... não voltam mais
Ninguém sabe dizer nada
da formosa Marilú
foi apanhada na escada
a comer bacalhau cru
Tenho uma rata no sótão
ao pé da lata da tinta
Todos os dias vou lá ver
se aquela rata já pinta
Casado que arrasta a asa
à mulher deste e daquele
merece encontrar em casa
outro homem no lugar dele
Ó minha mãe, minha mãe
Ó minha mãe, minha amada
quem tem uma mãe tem tudo
quem não tem mãe é órfão
Nas ondas do teu cabelo
ensinaste-me a nadar
mas quando estiveres careca
ensinas-me a patinar
Cabelo branco é saudade
da mocidade risonha
às vezes não é da idade
mas sim da pouca vergonha
Eu não sei porque razão
certas mulheres, a meu ver
quanto mais pequenas são
mais grandes se querem fazer
Acabou a desgarrada
que não ofendeu ninguém
Boa noite, meus senhores
Passem todos muito bem!